sexta-feira, 22 de abril de 2011

A páscoa dos hebreus e seu significado Cristão

“Alimpai-vos pois do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”. 1 Coríntios 5:7

A páscoa tem sua raiz entre o povo hebreu. Entretanto a velha história do coelhinho e do ovo de páscoa é uma desfiguração da verdadeira, que em nossos dias é direcionada ao consumismo. Falaremos da verdadeira páscoa dos hebreus e de seu significado na cultura cristã.

Há mais de três mil anos atrás o povo hebreu encontrava-se escravizado pela nação egípcia. Por quatro séculos eles permaneceram subjugados pelo braço forte dos faraós. Então o Eterno, levantou Moisés poderosamente para instaurar a libertação. Nove pragas balançaram os egípcios, porém a décima abalou as estruturas do reino.

A derradeira praga anunciava a morte de todos os primogênitos no território egípcio, começando pela casa de faraó, continuando até a casa do mais simples camponês, abrangendo ainda as primeiras crias dos animais. A única maneira de safar os filhos primeiros do juízo de Deus, era realizando o pessach “a páscoa”. Todavia, Deus agraciou somente o seu povo sofredor com este triunfo (Êxodo cap. 12).

A páscoa dos hebreus marcava a transição da vida escrava nas fornalhas para um período de peregrinação em direção à terra de delícias, à Terra Prometida. Este evento foi tão marcante que mudou até o calendário judeu (Êxodo 12:1 e 2). Até então o ano judaico tinha começado com o mês de Tisri, perto do equinócio do outono. O mês em que sucedeu a saída, o mês de Abibe ou Nizã, era no equinócio da primavera¹.

As famílias guardavam um carneiro ou cabrito, o reservando por quatro dias (10 de Nizã*). O animal devia ser macho, sem defeito, e sem mancha alguma, no dia 14 de Nizã ao por do Sol ocorreria o sacrifício. O cordeiro assado no fogo, era acompanhado na refeição por ervas amargas e pão sem fermento. A família devia comer a páscoa em prontidão, a peregrinação não tardaria, a libertação estava ás portas.

O sangue do cordeiro nas portas da casa era o sinal da isenção da morte. “... na noite em que o cordeiro fosse morto, Deus enviaria o anjo da morte, que passaria pela terra do Egito... passaria pelas casas protegidas pelo sangue do cordeiro, porém nelas não entraria para ferir o primogênito².

O historiador Flávio Josefo comenta: Ao raiar do décimo quarto dia, como Deus havia marcado, começaram a oferecer o sacrifício: purificaram as suas casas, lançando-lhes sangue com um ramalhete de hissopo, e depois de terem ceado queimaram tudo o que havia restado do alimento, estando prontos para partir. Nós observamos ainda esse costume e damos à festa o nome de Páscoa, isto é, "passagem", porque foi nessa noite que Deus, passando pelos israelitas sem lhes causar mal algum, feriu os egípcios com esta grande praga: todos os primogênitos morreram. Tão grande e geral aflição fez correr o povo em massa ao palácio do rei, para suplicar-lhe que deixasse sair os hebreus.

Para nós cristãos, a páscoa tem Cristo como significado. Entendemo-la como uma profecia factual, ou seja, quando um fato histórico, real, sucedido no tempo e no espaço, se torna sinal profético de outro evento. A Páscoa de Israel, como nação, é símbolo da obra de Cristo³.

As ervas amargas consumidas na cerimônia lembrava o tempo penoso nas fornalhas do Egito. Para os cristãos as ervas amargas traz recordação do sofrimento e da amargura da vida vazia de significado do passado. A ausência de fermento indicava a pressa em partir da terra estranha, e a não corrupção de Israel com os costumes egípcios; por isso, fermento algum poderia ser achado na casa dos israelitas. Nós cristãos entendemos que o nosso tempo aqui é curto, não há o que perder com as atrações de uma vida pecaminosa, é imprescindível permanecer puro.

Mas o principal símbolo pascal é o cordeiro. Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). Ele é a nossa páscoa, em 1Coríntios 5:7b: "Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós". Pedro faz-se alusão à guarda do cordeiro durante estes quatro dias:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes do vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos; por amor de vós. (1Pedro 1: 18-20).

O apóstolo Pedro afirma que Jesus é o cordeiro de Deus guardado para nossa redenção. O sangue de Jesus nos livrou do juizo de Deus, assim como o sangue do cordeiro nos umbrais salvou os israelitas (Colossenses 2:14). Sem mácula alguma4, nem os acusadores de Jesus puderam acusá-lo de pecado.

O cordeiro da páscoa é nos apresentado também sob dois aspectos, a saber: como fundamento da paz e como centro de unidade. "...vendo eu sangue, passarei por cima de vós" (versículo 13). Nada mais era necessário, senão a aspersão do sangue, para se desfrutar paz em relação com o anjo destruidor5. Jesus nos trouxe a paz unindo judeus e gentios pelo seu sacrifício. Pois foi Cristo quem nos trouxe a PAZ, tornando os judeus e os não-judeus UM POVO SÓ. Por meio do sacrifício do seu corpo, ele derrubou o muro de inimizade que separava os judeus dos não-judeus. Efésios 2:14.

Não entristecemo-nos pela morte de Jesus, mas sim nos alegramos pela graça que recebemos do Pai, e pelo sacrifício vivo do Filho Jesus, que nos garantiu vida abundante, pagando toda a dívida que era contra nós com Seu sangue. Feliz ressurreição de Cristo.

Fontes:

* Nizã – é o equivalente judaico moderno para para abibe (cai entre março e abril).
1 – O Novo Comentário da Bíblia – F. Davidson.
2 – Pentateuco - David Cabral. Pg.47.
3 – Pentateuco – David Cabral. Pg.47.
4 - Hebreus 4:14 e 15.
5 – Notas Sobre o Pentateuco – C. H. Mackintoch.
A História dos Hebreus – Flávio Josefo
Comentário Bíblico do professor – Lawrence Richards. Pg.99.

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